domingo, 30 de outubro de 2016

SIGNO: Significante x Significado

Saussure define o signo como a união do sentido e da imagem acústica. O que ele chama de “sentido” é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada pela formação sociocultural que nos cerca desde o berço. Por outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som” (CLG, p. 80). Melhor dizendo, a imagem acústica é o significante




Quanto ao princípio da arbitrariedade, Saussure (p. 83) esclarece que arbitrário
... não deve dar a idéia de que o significado dependa da livre escolha do que fala, [porque] não está ao alcance do indivíduo trocar coisa alguma num signo, uma vez esteja ele estabelecido num grupo lingüístico; queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. 
Desse modo, compreendemos por que Saussure afirma que a ideia (ou conceito ou significado) de mar não tem nenhuma relação necessária e “interior” com a seqüência de sons, ou imagem acústica ou significante /mar/. Em outras palavras, o significado mar poderia ser representado perfeitamente por qualquer outro significante. E Saussure argumenta, para provar seu ponto de vista, com as diferenças entre as línguas. Tanto assim que a ideia de mar é representada em inglês pelo significante “sea” /si / e em francês, por “mer” /mér/.

Apesar de haver postulado que o signo lingüístico é, em sua origem, arbitrário, Saussure não deixa de reconhecer a possibilidade de existência de certos graus de motivação entre significante e significado. Em coerência com seu ponto de vista dicotômico, propõe a existência de um “arbitrário absoluto” e de um “arbitrário relativo”. Como exemplo de arbitrário absoluto, o mestre de Genebra cita os números dez e nove, tomados individualmente, e nos quais a relação entre o significante e o significado seria totalmente arbitrária, isto é, essa relação não é necessária, é imotivada. Já na combinação de dez com nove para formar um terceiro signo, a dezena dezenove, Saussure acha que a arbitrariedade absoluta original dos dois numerais se apresenta relativamente atenuada, dando lugar àquilo que ele classificou como arbitrariedade relativa, pois do conhecimento da significação das partes pode-se chegar à significação do todo.

O mesmo acontece no par pera / pereira, em que pera, enquanto palavra primitiva, serviria como exemplo de arbitrário absoluto (signo imotivado). Por sua vez, pereira, forma derivada de pera, seria um caso de arbitrário relativo (signo motivado), devido à relação sintagmática pera (morfema lexical) + -eira (morfema sufixal, com a noção de “árvore”) e à relação paradigmática estabelecida a partir da associação de pereira a laranjeirabananeira, etc., uma vez que é conhecida a significação dos elementos formadores.

A respeito da linearidade, este é um princípio que se aplica às unidades do plano da expressão (fonemas, sílabas, palavras), por serem estas emitidas em ordem linear ou sucessiva na cadeia da fala. 

Referência:
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix; USP, 1969.
http://www.filologia.org.br/viisenefil/09.htm

Sincronia X Diacronia

Diacronia: do grego dia (através) e chrónos (tempo) = através do tempo;
Sincronia: do grego syn (juntamente) e chrónos (tempo) = ao mesmo tempo.






"A distinção feita por Sausurre entre a investigação diacrônica e a investigação sincrônica representa duas rotas que separam a linguística estática da linguística evolutiva. É sincrônico tudo que se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito ás evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução." (Saussure, 1975: 96);
Ou seja, para Saussure o linguista deve estudar principalmente o sistema da língua, observando como se configuram as relações internas entre seus elementos em um determinado momento do tempo. Esse tipo de estudo é possível porque os falantes não têm informações a cerca da história de sua língua e não precisam ter informações etimológicas a respeito dos termos que utilizam no dia-a-dia: para os falantes, a realidade da língua é o seu estado sincrônico.


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dicotomias de Saussure

Ferdnand de Saussure definiu a linguística como uma ciência, assim dividiu a área de estudos da linguística em quatro partes que foram denominadas dicotomias. São elas:

• Sincronia e Diacronia
Este primeiro conceito separa o estudo da língua em duas formas: sincrônica para aspectos da língua em dado momento e diacrônica para os aspectos históricos, ou seja, a evolução da língua. Que para Saussure são aspectos da língua totalmente distintos, em que o estudo sincrônico tem maior importância.

• Língua e Fala
Língua é conjunto de signos que usamos para nos comunicar, é um sistema coletivo. Enquanto a fala é mais individual e está relacionada à escolha de cada um, portanto para ele o objeto de seus estudos era a língua e não a fala.

• Significante e Significado
Significante está ligado à manifestação fônica, é uma imagem acústica, já o significado é o conceito que está relacionado ao seu conteúdo semântico. Estes dois termos formam o que conhecemos como signo, que é a relação indissociável entre significante e significado.

• Sintagma e Paradigma
Sintagma está relacionado ao eixo do discurso que como define Saussure é “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”. Enquanto o paradigma é o eixo das escolhas de palavras para montar o discurso. Portanto o paradigma corresponde às combinações de palavras feitas para formar o discurso no eixo sintagma.

As dicotomias saussurianas serviram como base para os estudos linguísticos modernos, mesmo que para contrariar ou concordar com as ideias do linguista Ferdinand de Saussure.

Referência: SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 27 ed. São Paulo: Cultrix. 279 p.
FIORIN, J. L. Introdução à linguística. São Paulo: Contexto, 2006/2007. 226p. Vol. I e Vol II

Quadro Biográfico Ferdinand de Saussure


26/11/1857 - Seu nascimento em Genebra.
1867 - Contato com Adolphe Pictet, autor das Origens Indo-européenes (1859 - 1863).
1875 - Estudos de Física e Química na Universidade de Genebra.
1876 - Membro da Soc. Ling. de Paris.
1877 - 1878 - Mémoire sur les voyelles indo-européenes (publicada em dezembro de 1878 em Leipzig).
1880 - Tese de doutorado: De l'emploi du genitif absolu en sanskrit. Viagem a Lituânia. Em Paris segue os cursos de Bréal.
1882 - Secretário adjunto da Soc. Ling. de Paris e diretor de publicação das Memórias. Fica conhecendo Baudoin de Courtenay.
1890 - 1891 - Retoma os cursos da École Pratique des Hautes Études.
1891 - 1896 - Professor extraordinário em Genebra
1896 - Professor titular em Genebra
1907 - 1º Curso de Linguística Geral.
1908 - Seus discípulos de Paris e de Genebra oferecem-lhe uma Miscelânea comemorativa do 30º aniversário da Memória sobre as vogais.
1908 -1909 - 2º Curso de Linguística Geral.
1910-1911 - 3º Curso de Linguística Geral.
27/02/1913 - Seu falecimento em Genebra.


Referência: SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 27 ed. São Paulo: Cultrix. 279 p.

100 Anos Com Saussure

Ferdinand de Saussure foi um grande linguista conhecido como o fundador da moderna linguística científica. Criou os famosos cursos de linguística geral e definiu um novo objeto de estudo da linguística, a língua como elemento fundamental da comunicação humana. Saussure dividiu seu campo de estudo em quatro conceitos ou dicotomias: diacronia e sincronia, língua e fala, significante e significado e paradigma e sintagma.
Estes conceitos foram estudados por Saussure e serviram de base para o desenvolvimento dos estudos da linguística como ciência. Desde então surgiu o famoso livro Curso de Linguística Geral escrito por Charles Bally e Albert Sechehaye em colaboração de Albert Riedlinger após a morte de Saussure, com base nas anotações feitas por seus alunos ao longo de cursos oferecidos pelo linguista.
Este ano é comemorado os 100 anos de publicação do Curso de Linsguitica Geral pela editora Payot, obra que se aprofunda nos conceitos elaborados por Saussure e se tornou um marco revolucionário para o estudo da linguística. Portanto em comemoração à publicação da obra de Saussure, os conteúdos postados no blog neste semestre estarão voltados aos temas estudados em sua prestigiada obra Curso de Linguistica Geral.